segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Drogas lícitas são passo para as ilícitas
Ao atender dependentes químicos em seus 18 anos de trabalho, a assistente social Mônica Azevedo constatou em suas entrevistas, que, no que se refere ao primeiro contato com as drogas, o uso começou dentro de casa em quase todos os casos atendidos. 'Quando em festinhas os familiares deixavam restos de bebidas alcoólicas e cigarros e as crianças provavam escondidas. O uso se agrava na adolescência, fase de transgressão, de pertencimento aos grupos e de autoafirmação. Raros são os casos em que os jovens começam o vício com as drogas ilícitas, mas esse número vem aumentando, ultimamente', afirmou.
Mônica é licenciada pelo Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas (Coned-PA) e pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) para realizar trabalhos na área de prevenção ao uso de drogas. Sobre a justificativa de curiosidade para a entrada no mundo das drogas, ela acredita que o termo seja um 'pano de frente', mas que por trás da busca destrutiva existam problemas de autoaceitação, de baixa estima e de outras dificuldades emocionais, geralmente ligadas à infância. 'Um problema sério são os familiares superprotetores, que não deixam os filhos crescerem e aprenderem a se defender, e a ter recursos para lidar com perdas e frustrações', analisa.
A assistente social contou que, na maioria dos casos, a família só procura ajuda quando a crise está instalada e não consegue mais lidar com a situação. 'A nossa cultura é da medicina curativa, ou seja, de procurar tratamento após o problema tomar proporções desesperadoras. A dependência química afeta o lado moral, físico e emocional das famílias, por isso é mais cômodo negar e esconder-se. É difícil de lidar e se recuperar sozinhos do conjunto de sintomas da síndrome de dependência química. Eles (família e o dependente) adoecem juntos', afirmou.
A negação do problema é o sintoma mais grave da codependência - como são denominados os familiares no processo. 'Isso dificulta todo o tratamento. Nos grupos de terapia, a presença da mulher é marcante. Os familiares também não procuram ajuda, por achar que não são doentes e que é só o dependente que precisa de tratamento. Pelo contrário, a família pode fazer muito. É ela quem vai ajudar na mudança desse panorama e a ser menos permissiva com o dependente, ajudando-o a ser responsável por suas ações', afirmou a especialista.
O dependente só procura ajuda quando percebe que está no chamado 'fundo do poço'. 'Quando ele não tem mais condição de conseguir a droga e encontra todas as dificuldades para tal. No entanto, muitos se internam só para manipular a família e conseguir voltar a ter novos objetos, inclusive alguns familiares barganham dizendo: ‘Te trata que te dou um carro, moto...’. Ainda têm aqueles que entram em recuperação para aprender a usar controlado. É péssimo, porque não existe uso controlado. Não tem como controlar a si mesmo nem ao uso quando se é dependente de drogas e as utiliza. Só há uma forma de controlar a compulsão, que é a abstinência das drogas, com tratamento', pontuou.
 Mônica lembrou que o dependente químico sabe que não deve exigir da família quando ingressa na recuperação, deve 'apenas agradecer por conseguir se tratar e saber que se quer ter algo, precisará trabalhar e comprar', ponderou.


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